Páginas

4 de fev. de 2012

Resiliência pra quê mesmo?

Brasil resiliente
Como uma prévia para o que virá na Rio+20, a ONU publicou o relatório: “Pessoas resilientes, Planeta resiliente:um futuro que vale escolher”. O  relatório fala sobre a sustentabilidade global, mas na mídia o que mais repercutiu foi que o relatório apontou que no Brasil a desigualdade diminui, além de ter reduzido o desmatamento e ter apresentado bons índices na produção de energia limpa.

O relatório também aponta 56 recomendações para implantar uma mudança de modelo econômico que tenha como base o crescimento da produtividade e a redução no consumo de recursos naturais, relegando a ciência a responsabilidade pelo sucesso desta relação.


 A desigualdade diminui no Brasil porque, segundo dados econômicos, a renda do brasileiro aumentou ou seja, mais pessoas entraram para a desejada classe média e outros tantos ainda se mantém sob a linha de pobreza, enquanto uma minoria gritante avança exponencialmente para o ranking da Forbes. Essa nova classe média emergente nada mais é do que uma política para aumentar o número de consumidores, elevar os ganhos dos empregadores e o PIB do país, sem necessariamente acarretar uma melhoria na qualidade de vida das pessoas, que continuam a se amontoar nas grandes cidades sem qualquer infraestrutura que acompanhe este crescimento. Não entendi ainda o que temos que comemorar.

A redução do desmatamento depende da face do problema que se vê. Já falamos aqui sobre isso no post: O que oBrasil precisa é de proteção ao meio ambiente e não de tablets, mas em linhas gerais como pode o desmatamento ter reduzido quando há um recuo dos investimentos no MMA e uma legislação como o Novo Código Florestal entra em vigor? Muitas vezes este tipo de dado são conseguidos alterando o tipo de imagem de satélite que será usada na análise, assim é reduzida a resolução da imagem e os resultados se tornam magicamente positivos!!! É a própria fábrica de sonhos!

Quanto a energia limpa, a produção brasileira está estritamente relacionada a construção de hidrelétricas, posto a inexpressiva existência de outros tipos de energia limpa, como a eólica e a solar. No post: Energia para um mundo sustentável:Hidrelétricas é discutido o quão verde são as hidrelétricas, considerando os impactos sociais, ambientais, econômicos e políticos.

Por fim, o termo resiliente vem bem a calhar. Por resiliência entendemos a capacidade de um indivíduo  se manter íntegro mesmo diante de problemas, choques e outras situações adversas. Originalmente é um termo importado da física utilizado na análise de materiais e suas propriedades.

Resiliente é o sistema capitalista, que se mantém vivo as custas da exploração e da desigualdade, que fabrica sonhos para poucos e desespero para a maioria, sob uma ideologia democrática materializada em organizações acima de qualquer suspeita como a ONU. Que se mantém vigente diante de tantas contradições inerentes ao próprio sistema, com István Meszáros descreve com grande talento no livro O Poder da Ideologia.

Contradição presente dentro do próprio relatório quando se propõe uma mudança de modelo econômico que continua a incentivar a produtividade no melhor ritmo do capitalismo avançado, apesar da prever redução no uso dos recursos naturais, sem apresentar na prática como se dá este milagre da geração espontânea.

Melhor do que se mostrar resiliente, que nos termos do relatório não pode ser considerado algo positivo já que postula como podemos nos manter íntegros diante de um mundo desigual, opressivo e ambientalmente desequilibrado, é entrar em choque com o sistema capitalista já que a integridade foi retirada de nós a longa data.

Fonte:
Meszáros, I. O poder da ideologia

Nenhum comentário: