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14 de mar. de 2012

Temos um só problema – e é bem grande!!!


Recentemente li um artigo que falava a respeito da publicação de um relatório no qual um grupo de cientistas listaram 21 questões ambientais emergentes para o século XXI. Num primeiro momento pensei – Só 21!?!? Está bom demais!!! Pensando rapidamente poderia citar... sei lá?... Um monte: chuva ácida em Manchester, presença de hexaclorocicloexano em golfinhos, ondas eletromagnéticas cozinhando nossos cérebros, extinção do bagre-do-dorso-pelado-e-moicano-prateado endêmico do alto São Francisco (à la Sakamoto)... São tantos os problemas ambientais e sociais dos quais temos notícia que fica impossível resolvê-los, ou pelos menos, essa é a impressão que nos passam.

No entanto, essa forma de encarar as questões e problemas é inerente ao nosso paradigma científico, cuja origem remonta principalmente a Newton, Bacon e Descartes que juntos nos deixaram um mundo linear, mecânico, previsível e no qual o papel do homem (com “h” minúsculo mesmo) é explorá-lo e torturá-lo até que este entregue toda sua riqueza e segredos. Para isso basta dividir o mundo em vários fragmentos. Pegue um deles e descubra do que é feito e como funciona e daí extrapola-se para o todo resto e pronto! E quanto mais e menores pedacinhos se dividir melhor.

Essa visão de mundo é reforçada ainda por uma moral judaico-cristã que separa o Homem do restante da natureza, nos posicionando fora e acima dela e de todos os demais seres, inclusive do próprio Homem. O Homem é lobo do Homem (como disse Hobbes, mas não neste contexto) – pobre lobo... Essa moral, extremamente machista inclusive, também reserva um papel secundário e inferior para mulher, subjugada ao pai, irmãos, marido. Mero objeto reprodutor a serviço dos caprichos de seu senhor naquele momento. E creio eu, que dessa mentalidade deriva-se uma série de consequências também perniciosas e prejudiciais para para outras minorias (que juntas são a grande maioria) como homossexuais, negros, pagãos...

Mas porque eu estou falando isso tudo mesmo? Não era pra falar de problemas ambientais? Calma que já vamos chegar lá. Em seu desenvolvimento o capitalismo se apropriou desses ideais ou esses ideais deram origem ao capitalismo (para mim todos se retro-alimentam positivamente, de forma mútua, não sendo possível afirmar quem veio primeiro) de forma muito profunda e radical. Em sua fase global hegemônica mais recente, essa visão de mundo e seus valores correlatos foi imposta a todos os povos e nações, tornando-se a ideologia dominante e única aceita. A coisificação da vida, a valorização do ter (ao invés do ser), o consumismo exacerbado sustentado na super-exploração do meio ambiente e do homem, que rompe com a resiliência do planeta e subjuga e segrega homens e mulheres, entre aqueles que tem e aqueles que não tem – e quem não tem, nada vale.

Vendo assim, percebo que não temos 21, nem 100, nem 1000 problemas ambientais emergentes para o século XXI. Pobres cientistas e sua míope visão cartesiana do mundo! Radicalmente, existe apenas 1 – UM ÚNICO – problema, que não é apenas ambiental, nem social nem econômico e que muito menos é emergente. Temos um único problema a enfrentar nesse século que apenas se inicia, sem grandes perspectivas – é verdade! – mas que se faz urgente, se queremos ter um futuro como espécie. Precisamos romper definitivamente com a lógica de exploração, consumo e acumulação do Capitalismo e suas consequencias nefastas a vida, em todos os sentidos.

Homem como espécie, em sua ontogenia, diferenciou-se dos demais pela capacidade reflexiva e utilização de símbolos que proporcionam a comunicação. Não estamos separados numa posição superior hierárquica dos demais seres. Estamos juntos, participando da mesma rede da vida que co-habitam Gaia. Somos essa parcela de Gaia, pensante e reflexiva, com o papel de guiar essa co-evolução. Estamos, e só nós poderíamos estar, e esta é nossa grande responsabilidade, com o timão desse grande barco em nossas mãos. Para onde vamos? Depende de nós. Mas um bom caminho seria na rota de uma sustentabilidade que  provém das ciências da vida e da ecologia, cuja lógica é circular e includente. Que representa a tendência dos ecossistemas ao equilíbrio dinâmico, à interdependência e à cooperação de todos com todos, que privilegia o coletivo, a cooperação e a co-evolução de todos interconectados. Que respeite a capacidade de resiliência dos ecossistemas. Uma sustentabilidade democrática, justa e solidária na distribuição dos bônus e dos ônus. Que permita a cada indivíduo se conhecer naquilo em que é único e essencial e dessa forma livre para se manisfestar, respeitar e aceitar verdadeiramente o outro e a diversidade, como a expressão mais rica da vida. Acho que este é um bom começo de um novo caminho.

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